Somos como Deus?


"Ser 'como' não significa ser 'igual'"



Tema: Somos como Deus?


Texto: Gn 3:22 parte A (ACF)


"Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal (...)."


Lema: "A ferida do pecado original é uma marca na humanidade."


– macjhogo


O tema "Somos como Deus?" provoca uma reflexão sobre nossa convergência e propósito à luz das Escrituras. 


Segundo a Bíblia, fomos criados à imagem e semelhança de Deus, chamados a refletir Sua essência em nossa vida. Porém, a tentativa de se igualar a Deus é um perigo que a humanidade enfrenta desde a queda, quando Adão e Eva sucumbiram à tentação de serem não "como Deus", mas "iguais a Deus".


Esta introdução nos convida a considerar a diferença entre submeter-se e usurpar o lugar de Deus.


Como já foi mencionado acima, Adão e Eva foram criados à imagem e semelhança de Deus, o que lhes conferia dignidade, racionalidade e o predicado de refletir aspectos do caráter de Deus, tais como o amor, a justiça e a criatividade. No entanto, ser "como Deus" é diferente de ser "igual a Deus" em poder, conhecimento, autoridade e em qualquer outra particularidade de Sua natureza.


▪️A diferença de Ser "COMO" e Ser "IGUAL"


A frase transmite bem a ideia de que "ser como" algo ou alguém implica em semelhanças, mas não em identidade completa.


As palavras "como" e "igual" têm significados relacionados, mas não são sinônimos perfeitos.


"Como" é usado para indicar uma comparação ou semelhança entre duas coisas. Pode significar "de modo semelhante a" ou "tal como". Por exemplo: "Ele corre como um atleta." Aqui, "como" sugere que a pessoa corre de uma maneira semelhante a um atleta, mas não necessariamente ao mesmo nível.


"Igual" significa que duas coisas são exatamente as mesmas em termos de características ou natureza. Quando algo é "igual" a outra coisa, não há diferença entre elas em algum aspecto específico. Por exemplo: "Essas duas camisas são iguais." Neste caso, as camisas têm as mesmas características, como cor, tamanho ou modelo.


Portanto, "ser como" indica semelhança, mas pode haver diferenças, enquanto "ser igual" implica que não há diferença.


▪️ Induzindo ao erro


A tentação do fruto do conhecimento do bem e do mal, oferecido pela serpente (Gn 3:1-5), prometia a eles algo mais: a liberdade absoluta — não aceitar nenhuma autoridade que não fosse inerente à razão e à vontade humanas — e o poder de decidir por si mesmos o que era certo e errado, algo que, até então, era prerrogativa exclusiva de Deus. A serpente sugeriu que, ao comerem o fruto, seus olhos seriam abertos e eles se tornariam como Deus, no sentido de terem cabal conhecimento e controle sobre suas próprias vidas, alcançando assim a autossuficiência.


Eles comeram o fruto porque foram seduzidos pela promessa de transcender a condição de criaturas para se tornarem, de alguma forma, autônomos e independentes do Criador. Esse desejo de ser igual a Deus, de não depender mais d'Ele para determinar o que é certo e errado, foi o que os levou a desobedecer ao único mandamento que lhes foi dado. Assim, a queda do homem foi menos sobre a busca por ser como Deus e mais sobre a tentativa de usurpar a posição e o senhorio de Deus.


Infelizmente, testemunhamos a repetição do caos, mas sob uma nova ótica: A dualidade do papel de Satanás no Jardim do Éden.


1. Protagonista


▪️Ativador da queda: Sem dúvida, Satanás é a figura central que ativa a desobediência de Adão e Eva, instigando-os a questionar a autoridade divina e a desejar o conhecimento proibido.


▪️Mestre da tentação: Ele utiliza a astúcia e a manipulação para apresentar o pecado como algo desejável e atraente, tornando-se o principal agente da transgressão.


2. Espectador


▪️Observador da fragilidade humana: Satanás, originalmente, fazia parte das “hostes celestiais", rebelou-se contra Deus por discordar de Seus planos, já tinha plena experiência com o âmago do pecado, e possuía um conhecimento intuitivo sobre a natureza humana e suas inclinações. Ele observa, com certa ironia, a facilidade com que Adão e Eva cedem à tentação, confirmando sua visão radicalmente pessimista sobre a humanidade, pois suas observações prévias haviam lhe indicado, que a humanidade seria suscetível à transgressão. A queda do primeiro casal apenas ratificou suas suspeitas sobre a fragilidade da condição humana diante da tentação.


▪️Catador dos frutos da desobediência: Ao instigar a queda, Satanás, em certo sentido, "colhe" os frutos da desobediência, vendo seus planos se concretizarem e a ordem de Deus ser perturbada.


 Em sua sádica contemplação, o arquétipo do mal assiste as três tentações corroerem o coração do homem, através das raízes mais profundas do pecado:


"E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela." (Gn 3:6, ACF)


 "Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." (1 Jo 2:16, ACF)


1. A concupiscência da carne, que se refere ao apetite desordenado pelo prazer físico e sexual, tendo como única razão de viver– “a árvore era boa para se comer” – estimula-nos a buscar satisfação egoísta no prazer do pecado, e não no Senhor.


"Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." (Gl 6:7, ACF)


"Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna." (Gl 6:8, ACF)


2. A concupiscência dos olhos, relacionada ao desejo por bens materiais e riqueza – “a árvore agradável aos olhos” – leva a colocarmos as “coisas materiais” na frente do Senhor.


"Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." (Lc 16:13, ACF)


3. A soberba da vida, o desejo por poder e autossuficiência – “a árvore desejável para dar entendimento” – incita a glorificar a nós mesmos, em vez do Senhor.


"E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado." (Mt 23:12, ACF)


Essas três realidades perpassam toda a história da vida e, por sua vez, conduzem o homem à depravação total, à sua própria ruína – morte e a separação da presença de Deus.


"Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor." (Rm 6:23, ACF)


"Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça." (Is 59:2, ACF)


▪️Um evento histórico 


Esse marco que permeia toda a história humana, culminando na degradação do indivíduo no mundo, não é resultado da ignorância de Adão e Eva, mas sim da consequência direta do pecado. Em outras palavras, a morte não foi uma punição por falta de entendimento, mas por uma escolha consciente de desobedecer.

A morte, portanto, não é um castigo por ignorância, mas o resultado de uma decisão deliberada.


▪️Conclusão 


Dessarte, os capítulos 2 e 3 do livro de Gênesis nos revelam uma verdade fundamental sobre a natureza humana: fomos criados à imagem de Deus, com o propósito de representar Seu governo na terra e viver em comunhão com Ele. No entanto, o pecado original consistiu na expectativa da humanidade de não apenas ser "como Deus" em termos de virtudes, mas de ser "igual a Deus", numa tentativa, fadada ao fracasso, de usurpar o poder divino. Esse desejo de independência, que levou à queda, ainda é um desafio constante na vida humana.


Ser "como Deus" significa reconhecer nossa semelhança com Ele em atributos como a razão, a probidade e a capacidade de amar, mas sempre com a consciência de que somos seres limitados, dependentes de Sua graça e soberania. Em vista disso, nosso chamado é o despojamento do ego, a humildade e a submissão à vontade do Senhor, reconhecendo que, apesar de nossa semelhança, não somos iguais a Deus, e nossa verdadeira liberdade encontra-se em residir sob o bojo de Sua direção.

Comentários

  1. Muito bom mesmo! 😊 Uma artigo digno de ser publicado numa bíblia de estudo.👏👏

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  2. Gostei muito. Explicação clara e objetiva. Conteúdo enriquecedor.

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